terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

GUERRA DOS SEXOS

Charlô e Otávio: sempre às turras
Após a alerdeada notícia de que Sílvio de Abreu escreverá em 2012 um remake desta trama, vamos falar hoje sobre "Guerra dos Sexos", uma das mais irresistíveis comédias das 19h não apenas dos anos 80, como também de toda a história da teledramaturgia brasileira. Escrita pelo mestre Sílvio de Abreu com a colaboração de Carlos Lombardi, começando na carreira, "Guerra dos Sexos" estreou na tela da Rede Globo em 06 de junho de 1983, com a direção precisa de Jorge Fernando (que também fez participações afetivas na história) e Guel Arraes.


A ideia de Sílvio de Abreu era escrever uma trama que falasse sobre a guerra entre o machsimo e o feminismo, e que reunisse os dois maiores nomes do teatro à época (Fernanda Montenegro e Paulo Autran) e os dois maiores da televisão (Glória Menezes e Tarcísio Meira). Segundo o próprio Sílvio, a escalação do quarteto foi fundamental para a viablização da trama, uma comédia nada elegante, mas sim, deliciosamente escrachada.


A história gira em torno dos primos Charlô (Fernanda Montenegro) e Otávio (Paulo Autran), que, na adolescência, tiveram um tumultuado romance que não deu certo. Os dois se odeiam e não alimentavam o menor laço parentesco há anos. Charlô trata Otávio por Bimbo, apelido que ele detesta. E este revida chamando-a de Cumbuca, o que sempre leva os primos a terríveis brigas.

Roberta Leoni e Felipe: entre tapas e beijos
Charlô nunca se casou, levou uma vida de viagens e aventuras emocionantes. Enquanto participava de um safári na África, recebeu um chamado para voltar ao Brasil. Um tio, recém-falecido, a incluira em seu testamento. Charlô está para receber um grande patrimônio, uma mansão em estilo vitoriano nos arredores de São Paulo e uma conceituada loja de departamentos situada num shopping da capital. Só que o tio exigia que tudo que ganhou só seria realmente seu se compartilhasse, com direitos iguais, com o detestado primo Otávio. O falecido milionário sabia das diferenças entre os sobrinhos, e temendo pelos seus bens após a sua morte, deixa no testamento uma cláusula que exige que os dois primos permaneçam juntos no comando dos negócios.

Juliana se apaixona pelo motorista Nando
Os atritos entre os primos, tanto em casa como no escritório, tornam essa convivência impossível. Charlô faz a Otávio uma proposta: um dos herdeiros deverá abrir mão da sua parte em nome do outro, numa arriscada aposta de cem dias, período que Charlô e sua equipe têm para elevar o lucro das lojas Charlô's em uma porcentagem estipulada. Caso contrário ela perde tudo. Está declarada a guerra dos sexos!

Do lado de Otávio está Filipe (Tarcísio Meira), filho adotivo de Charlô. Os dois formam uma dupla ardilosa e trapaceira, capaz de tudo para impedir o objetivo dela. Charlô conta com o apoio de Wânia (Maria Zilda Bethlem), seu braço direito na loja; e Roberta (Glória Menezes), viúva do empresário Vitório Leoni (Carlos Zara, em participação especial), que deixou a mulher sozinha no comando da fábrica do casal - a Ravello Sports -, fornecedora de peças de roupas para as lojas Charlô's. Mas Vitório estava envolvido em negócios escusos com Otávio e mantinha uma relação extra-conjugal com a perigosa Verusca (Sônia Clara), sua secretária. Roberta, inexperiente, não desconfia de nada e mantém Verusca na gerência de sua fábrica. Mas esta não tem nenhum escrúpulo e se alia a Otávio no seu objetivo de fazer falir a loja da viúva e encontrar um diamante deixado por Vitório.

As mulheres unem suas forças e montam uma equipe que trabalha a todo o vapor para cumprir o aumento das vendas no prazo de cem dias. É inclusive estabelecida uma regra que impede as mulheres de se envolverem com homens durante esse período, para não se tornarem presas fáceis em suas mãos.

O clima de discórdia entre machistas e feministas tem ainda a presença maquiavélica de   Carolina (Lucélia Santos), sobrinha de Roberta e filha do engraçado casal Nieta (Yara Amaral) e Dino (Ary Fontoura); que se faz passar por amiga da tia e de Charlô, mas que na verdade é aliada de Otávio. Para tirar proveito dessa situação, Carolina envolve-se amorosamente com Filipe, fazendo-o romper com Wânia, com quem Filipe mantinha um caso secreto. Mas Wânia descobre as intenções de Carolina e luta para desmascará-la perante Charlô e Roberta.

Enquanto isso, Juliana (Maitê Proença), filha de Filipe, rompe seu namoro com Fábio (Herson Capri) ao apaixonar-se por Nando (Mário Gomes), o motorista da família, disputando o rapaz com a irmã Analú (Ângela Figueiredo), uma garota maluca que faz de tudo para conquistá-lo. Mas Nando ama de verdade Juliana. É quando Roberta descobre-se também apaixonada por Nando e, apesar da diferença de idade, luta para conquistá-lo.

Yara Amaral era Nieta
Ainda no elenco, nomes como Hélio Souto, Cristina Pereira, José Mayer, Edson Celulari, Marilu Bueno, Leina Krespi, Diogo Vilela, Wilson Grey, Terezinha Sodré, Paulo César Grande e Ada Chaseliov, entre outros.

Além de diversas participações especialíssimas, como Regina Duarte, Renata Sorrah, Mário Lago, Berta Loran e Felipe Carone; com destaque para Catalina Bonaki, como a velhinha que assalta Roberta e Nando; e as ex-mulheres de Filipe, vividas por Aracy Balabanian, Irene Ravache, Susana Vieira, Renée de Vielmond e Eva Wilma.

Com um elenco de primeira, "Guerra dos Sexos" foi o grande sucesso de 1983. Segundo Nilson Xavier no site Teledramaturgia, "O pastelão era implícito - com direito a torta na cara e tudo! Com esta novela, Silvio firmou seu estilo de comédia escrachada. A harmonia entre autor, direção, elenco e produção propiciou um grande espetáculo. Silvio conduziu a novela sem perder o fôlego numa cadência de situações impagáveis e empolgantes."

A história foi recheada de momentos marcantes: as intermináveis brigas entre Charlô e Otávio; a aparição das cinco ex-mulheres de Filipe; os comentários de Nieta embalada pelas novelas que assistia; Roberta e Nando sendo assaltados por uma velhinha; a festa à fantasia organizada por Charlô; Nando e Analu indo parar em uma ilha deserta; a fuga de Frô para o cabaré Peru Vermelho; o sumiço de Otávio seguido da chegada de seu primo português, Dominguinhos (também Paulo Autran); Filipe caminhando nu pelo shopping; a incansável busca de Verusca pelo diamante perdido; o plano arquitetato por Nieta para separar Nando e Roberta, utilizando do mesmo artifício que Renata Dumont (Tereza Rachel), a vilã da novela das 20h da época, "Louco Amor"; os comentários de Frô acerca de sua amiga Carlotinha Bimbatti (participação especial de Regina Casé no último capítulo); e uma das mais antológicas cenas da história da TV brasileira, reprisada inúmeras vezes até hoje: a guerra de comida no café da manhã protagonizada por Charlô e Otávio, com direito a banho de leite, torta na cara, entre outras guloseimas.

A clássica cena do café da manhã desastroso do casal
Segundo Sílvio de Abreu, esta cena foi gravada de primeira, por exigência do próprio Paulo Autran, que afirmou que não iria tomar banho para refazê-la. No momento da gravação, todo o elenco parou para assistir, concentrado na situação que estava por vir. Naquele momento, Fernanda Montenegro e Paulo Autran sabiam que haviam feito uma cena antológica para a história da TV, que você pode conferir clicando aqui. E também pode ver o autor Sílvio de Abreu comentando sobre a cena, neste link.

O clima dE "Guerra dos Sexos" era assumidamente inspirado nos grandes momentos do cinema americano. Tal inspiração existe não só nas citações ou cenas inspiradas, mas também na trilha incidental. Apareciam, com bastante freqüência, as músicas de Um Corpo que Cai, Psicose, A Pantera Cor-de-Rosa, E o Vento Levou..., Caçadores da Arca Perdida, entre outros clássicos. Além da própria trilha sonora da trama, com músicas como "Adivinha o Quê?" de Lulu Santos, que embalava as cenas de Nando; "Dançar com Você", o tema de Nenê Gomalina cantado por Agnaldo Timóteo; e o tema de abertura, "Guerra dos Sexos" que fez o Brasil inteiro cantar por meses ao som dos The Fevers ("Pega, brinca, leva que é de graça, fica linda que o amor não passa..."). 

Confira a abertura aqui, e também mais algumas cenas desta deliciosa e inesquecível história, como Roberta e Filipe presos no frigorífico; o momento em que o amor secreto de Juliana é revelado ao público; o plano de Charlô e Vânia para desmascarar Verusca; uma conversa de Nieta e Otávio com referências à novela "Pai Herói"; a primeira e segunda partes da corrida do diamante; a reconciliação de Dino e Nieta; a preparação para o baile a fantasia; a dança dos primos no mesmo baile; e uma sequência dessa festa.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

ROQUE SANTEIRO


E começando, vamos falar de "Roque Santeiro", uma das novelas de maior sucesso de todos os tempos da Rede Globo. Há vinte e cinco anos, em 24 de junho de 1985, a Vênus Platinada levava ao ar o primeiro capítulo da trama de Dias Gomes, baseada em uma peça de sua autoria, o "Berço do Herói". Escrita por Dias e Aguinaldo Silva, com colaboração de Marcílio Moraes e Joaquim Assis, e com direção de Gonzaga Blota, Marcos Paulo, Jayme Monjardim e Paulo Ubiratan, "Roque Santeiro" deveria, na realidade, ter estreado dez anos antes, em 1975, mas às vésperas da estreia, foi impedida de ser exibida pela Censura - o Brasil vivia à época da ditadura.

Repleta de personagens inesquecíveis e com um dos mais brilhantes elencos reunidos pela Rede Globo, "Roque Santeiro" conta a história de Asa Branca, pequena cidade no nordeste brasileiro (na realidade, a cidade era uma miniatura do Brasil em mais uma das críticas inteligentes de Dias Gomes). Lá, há dezessete anos, o coroinha Luís Roque Duarte, conhecido como Roque Santeiro (José Wilker), por sua habilidade em modelar santos, tombou morto ao defender a população dos homens do bandido Navalhada (Oswaldo Loureiro), logo após seu misterioso casamento com a desconhecida Porcina (Regina Duarte). Santificado pelo povo, que lhe atribui milagres, tornou-se um mito e fez prosperar a cidade ao redor da sua história de heroísmo.

Só que Roque não está morto e volta à cidade ameaçando pôr um fim ao mito. Sua presença leva ao desespero o Padre Hipólito (Paulo Gracindo), o prefeito Florindo Abelha (Ary Fontoura) e o comerciante Zé das Medalhas (Armando Bógus), principal explorador do santo. Mas o maior prejudicado é o coronel Sinhozinho Malta (Lima Duarte) - "Tô certo ou tô errado?" -, que vê ameaçado o seu romance com a Viúva Porcina, que nunca foi casada com Roque e sempre viveu à sombra de uma mentira articulada por Malta. Mentira institucionalizada para fortificar o mito e tirar vantagens pessoais.

Ao retornar, Roque interfere na relação entre Sinhozinho Malta e Porcina, além de reascender a paixão de Mocinha (Lucinha Lins), a verdadeira noiva que nunca se conformou com seu desaparecimento e que se manteve casta à espera de seu amor, mesmo pensando que ele estivesse morto. Ela é filha do Prefeito Abelha e da beata Dona Pombinha (Eloísa Mafalda), e é cortejada pelo soturno Professor Astromar Junqueira (Ruy Rezende), suspeito de ser o lobisomem.

Asa Branca também fica movimentada com a chegada da sensual Matilde (Yoná Magalhães), velha amiga de Sinhozinho Malta, que monta o único hotel da cidade, a Pousada do Sossego, e traz do Rio de Janeiro duas "meninas", Ninon (Cláudia Raia) e Rosaly (Ísis de Oliveira), que vão trabalhar em sua boate Sexus e enfrentar a ferrenha oposição do Padre Hipólito e das beatas da cidade, comandadas por Dona Pombinha Abelha.

Também chega à cidade a equipe de filmagem de Gérson do Valle (Ewerton de Castro), o cineasta que vai filmar a saga de Roque Santeiro. A película tem como astros principais a atriz Linda Bastos (Patrícia Pillar), por quem o diretor é apaixonado apesar de ser casada com o ciumento Tito (Luiz Armando Queiroz), e o mulherengo Roberto Mathias (Fábio Jr.), que acaba por se envolver com a Viúva Porcina, com Dona Lulu (Cássia Kiss), a reprimida esposa de Zé das Medalhas, e com Tânia (Lídia Brondi), a contestadora filha de Sinhozinho Malta que acaba por se apaixonar pelo Padre Albano (Cláudio Cavalcanti). 

Ainda no elenco, nomes como Nelson Dantas, Nélia Paula, Arnaud Rodrigues, Elizângela, João Carlos Barroso, Maurício do Vale, Wanda Kosmo, Alexandre Frota, Maurício Mattar, Othon Bastos, Tony Tornado e Ilva Niño ("Miiiiiiinaaaaaaaaaa!"), entre outros.




Muitos momentos foram marcantes: o retorno de Roque à Asa Branca; as noites em que o  lobisomem ("Mistérios da meia noite, que voam longe...") atacava na cidade; Sinhozinho Malta lambendo a mão de Porcina feito um cachorrinho; e a hora em que Padre Albano bate o sino para reunir todos na praça e desvendar a farsa da morte de Roque Santeiro. Porém, o Beato Salú, que andava em coma, acorda novamente e a população acaba celebrando novamente os milagres de Roque Santeiro, ao invés de despertar para a verdade. 

 Graças a uma perfeita combinação de texto, direção e elenco, "Roque Santeiro" foi um enorme sucesso. Tanto que seu último capítulo registrou 100% de audiência no seu dia de exibição, feito nunca mais repetido até então. Segundo Nilson Xavier em seu site Teledramaturgia, "A notável penetração de 'Roque Santeiro' nos hábitos brasileiros, discutindo religião, misticismo popular e política, descartando o romantismo e adotando a caricatura no lugar de personagens psicológicos, devolveu à telenovela sua função de catalisadora das massas." 

Além disso, a trama praticamente lançou uma 'nova' Regina Duarte. Acostumada sempre a viver as mocinhas ingênuas, sofridas ou batalhadoras, Regina passou de "namoradinha do Brasil" a "amante nacional" com Porcina! Conforme lembra Aguinaldo Silva em seu blog, "Sem tirar o mérito da atriz, quem se entregou de corpo e alma à personagem e a tornou inesquecível foi [o diretor] Paulo Ubiratan. Quando ele anunciou que queria Regina para viver a personagem, houve, entre os executivos da emissora, certa estranheza. Afinal, embora ela fosse disparada a maior bilheteria da Rede Globo e a atriz mais famosa da casa, tinha se especializado em papeis de mocinhas adocicadas, e Porcina, bem... Porcina era o que se poderia se chamar de uma verdadeira “piranha”." Fora isso, a trama também lançou moda, com os extravagantes figurinos de Porcina e Matilde, além das perucas de Sinhozinho Malta.

Com tantos méritos e recordada até hoje, não é de se espantar que "Roque Santeiro" tenha  sido a primeira novela lançada em DVD pela Rede Globo. Em 2010, comemorando os vinte e cinco anos da estreia da trama, foi lançada uma caixa com 16 discos e mais de 50 horas de conteúdo, além de extras e comentários para que os que puderam conferir a obra matem a saudade, e que os que ainda não conhecem, se deliciem com ela. 

Clicando aqui, você confere a abertura da novela, na voz de Moraes Moreira. Além disso confira também algumas cenas, como Sinhozinho Malta lambendo a mão de Porcina,o retorno de Roque à cidade, a transformação do professor Astromar no lobisomem, e a cena final da trama.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

O Início

É isso aí galera! A partir de hoje entra aqui no ar o blog "A Televisão", que visa falar exatamente sobre a dramaturgia em geral na televisão nacional e internacional. Aqui você vai ver posts sobre telenovelas, seriados, minisséries, humorísticos e muito mais. Seja bem-vindo ao universo de "A Televisão".